Eletrificação pode evitar R$ 5 bilhões em gastos com meio ambiente e saúde pública
Estudo “Powering Brazil’s Transition To Zero-emission Trucking” do Instituto Ar revela cenário promissor com eletrificação do transporte de carga pesada no Brasil

A eletrificação do transporte de carga pesada pode trazer benefícios não só para o setor logístico, mas para toda a população brasileira. Segundo o estudo “Powering Brazil’s Transition To Zero-emission Trucking”, o Brasil pode economizar R$ 5 bilhões em custos ambientais e de saúde pública até 2050 com uso de veículos elétricos.
A pesquisa, realizada pelo Instituto Ar, ainda revelou que essa mudança reduziria em 46% as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Já os modelos híbridos, que combinam um motor a combustão e um motor elétrico, diminuiriam as emissões em 8% e evitaria apenas R$ 298 milhões em custos.
As pesquisadoras, Patrícia F. Rodrigues e Renata F. da Costa, trabalharam com um levantamento com diferentes cenários para a substituição da frota de caminhões pesados a diesel por tecnologias mais limpas em São Paulo, estimando reduções de emissões de poluentes até 2030 e 2050. Esses são os prazos definidos pelo Brasil em acordos internacionais para reduzir e zerar suas emissões.
Dessa forma, foram considerados cenários em que a transição energética se deu a partir de caminhões elétricos a bateria (BEV), movidos por célula de hidrogênio (FCEV), híbridos a diesel, gás natural liquefeito (GNL), gás natural comprimido (GNC) e com motores propulsionados por biodiesel puro (B100). “As conclusões não deixam dúvidas sobre as consequências econômicas e para a saúde pública advindas da escolha que o país faz sobre a matriz energética do transporte de cargas”, disse Patricia. Dessa forma, o enfrentamento das mudanças climáticas exigirá a transição energética do setor de transportes e pesquisadora aponta que este é o momento de conciliar a redução de emissões com ganhos para a saúde pública. “Sem uma intervenção eficaz, as emissões de caminhões a diesel continuarão a sobrecarregar o sistema de saúde brasileiro, levando ao aumento de custos e à piora dos resultados de saúde, principalmente para populações vulneráveis”, alertou.
DESVANTAGENS DOS BIOCOMBUSTÍVEIS
De acordo as pesquisadoras, a longa dependência do país em biocombustíveis deve ser entendida como uma medida transitória, já que mesmo aproveitando recursos e infraestrutura domésticos, pode não atender plenamente aos objetivos climáticos e econômicos de longo prazo do Brasil.
Para elas, a transição para eletrificação está alinhada com os compromissos nacionais de sustentabilidade do Brasil e pode gerar benefícios significativos para o meio ambiente, a saúde pública e a resiliência econômica.
Além do baixo impacto sobre emissões e custos evitados, a opção pelo biodiesel poderá se tornar um vetor de desmatamento. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mostram que óleo de soja representou aproximadamente 66% da produção brasileira de biodiesel em 2022.
Assim, em um cenário futuro em que o Brasil faça a transição completa para o biodiesel para uso na frota de caminhões e usando como base os atuais níveis de produção, seriam necessários cerca de 215 milhões de hectares de terra para atender à demanda, ou aproximadamente 25% da área total do Brasil, de 850 milhões de hectares.
Nesse processo, mudanças indiretas no uso da terra poderiam anular a economia de carbono, com o biodiesel de soja contribuindo para 59% do desmatamento indireto projetado no Brasil.
IMPACTOS NA SAÚDE PÚBLICA
Para avaliar os impactos da eletrificação na saúde brasileira, as pesquisadoras também analisaram as despesas com hospitalização no Sistema Único de Saúde (SUS) para condições com associações bem documentadas com a poluição do ar.
Elas concluíram que, entre 2013 e 2023, mais de R$ 24 bilhões foram gastos em hospitalizações relacionadas a essas doenças, tais como câncer do sistema respiratório, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias, além de diabete mellitus. Todas essas condições estão associadas à exposição a material particulado fino (MP2,5) e óxidos de nitrogênio (NOx) de caminhões movidos a diesel.
Emissões veiculares foram identificadas como um dos principais contribuintes para as concentrações urbanas de PM2,5, correlacionando-as com o aumento de doenças respiratórias em seis cidades brasileiras. Além das doenças respiratórias, a exposição prolongada aos gases de escape de diesel também pode ser associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, como hipertensão, acidente vascular cerebral e ataques cardíacos.
A pesquisa revelou que carga de poluição atmosférica causada por caminhões pesados no Brasil afeta desproporcionalmente comunidades localizadas perto de importantes corredores de transporte, como rodovias, centros logísticos e cidades portuárias. Essas áreas, frequentemente abrigando populações de baixa renda, apresentam não apenas maior exposição a poluentes nocivos, mas também vulnerabilidades socioeconômicas que agravam os riscos à saúde.
Dessa forma, Patrícia e Renata apontaram que a estratégia de eletrificação não beneficia apenas o meio ambiente, mas gera retornos econômicos e à saúde pública ao evitar os danos sociais associados à poluição.
MÉTODO DE PESQUISA
Para chegar aos números de impacto econômico, as pesquisadoras se basearam em m estudos do Imperial College London e da Universidade de São Paulo (USP), e ainda utilizaram a plataforma LEAP do Instituto Ambiental de Estocolmo. Elas estimaram diferentes cenários considerando distintas fontes de emissão, composição da frota e as transições entre cenários.
Além disso, consideraram as taxas de sobrevivência dos veículos e os fatores de degradação ao longo do tempo para garantir uma representação precisa das emissões reais.
A pesquisa comparou um contexto que os caminhões a diesel permanecem dominantes até 2050 sem investimentos significativos em infraestrutura de combustíveis alternativos com um cenário de tecnologias alternativas. Nesse último, foram considerados Gás Natural Liquefeito (GNL), Gás Natural Comprimido (GNC), biodiesel, diesel híbrido, caminhões elétricos a célula de combustível de hidrogênio e elétricos a bateria.
As estimativas originais de custo de dano foram derivadas de fontes como a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Em relação ao cultivo de soja e a produção de biocombustível no Brasil, Patrícia F. Rodrigues e Renata F. da Costa consideraram que, o Brasil consome atualmente aproximadamente 40 bilhões de litros de diesel anualmente, segundo dados do Ministério de Minas e Energia do Brasil. Sob o atual mandato de mistura de 14% de biodiesel, isso seriam aproximadamente 5,6 bilhões de litros de biodiesel produzidos a cada ano.
Como 65,8% do biodiesel brasileiro são derivados do óleo de soja, o volume de biodiesel à base de soja é de aproximadamente 3,92 bilhões de litros por ano. Com um rendimento médio de 400 litros de biodiesel por hectare a partir de matérias-primas à base de soja, esse nível de produção requer cerca de 9,8 milhões de hectares de soja.
Dessa forma, para a que a frota de caminhões do Brasil fosse abastecido com o biocombustível, seriam necessários 86 bilhões de litros de biodiesel, o que cerca de 215 milhões de hectares de terra.
Fonte: Redação - Mundo Logística
Via: Agência Logistica de Notícias
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