Caminhoneiros autônomos trabalham cerca de 14 horas por dia, revela pesquisa da CNTA

Levantamento “Realidade do Caminhoneiro Autônomo 2025”, que entrevistou mais de 2 mil motoristas, foi apresentado na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados

Caminhoneiros autônomos trabalham cerca de 14 horas por dia, revela pesquisa da CNTA

Caminhoneiros autônomos brasileiros trabalham, em média, 14 horas por dia e 25 dias por mês — desses, 57% aceitam fretes abaixo do piso mínimo por necessidade e não denunciam. Esses dados fazem parte da pesquisa “Realidade do Caminhoneiro Autônomo 2025”, realizada pela Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), apresentada na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.

De acordo com a Agência Câmara de Notícias, o debate atende a pedido do deputado Zé Trovão (PL-SC), que afirmou que o objetivo é atualizar as discussões sobre as condições de trabalho dos caminhoneiros autônomos, com base no levantamento. "A finalidade é levar ao conhecimento do Congresso Nacional e do Governo Federal um retrato atualizado e realista da categoria, evidenciando suas condições de trabalho, desafios cotidianos e percepções sobre as políticas existentes", destacou o político.

A pesquisa da CNTA foi realizada entre junho e agosto de 2025 com mais de 2 mil caminhoneiros, todos devidamente cadastrados no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC). Foram entrevistados presencialmente profissionais em postos de combustíveis, centros de cargas, balanças rodoviárias e paradas estratégicas em rodovias do Norte ao Sul do país.

Segundo o presidente da Confederação, Diumar Bueno, a iniciativa surgiu para retratar a realidade dos caminhoneiros, sem estereótipos e com base em dados concretos, que consolida a entidade como referência nacional quando o assunto é informação qualificada sobre os caminhoneiros autônomos. “Estamos comprometidos em evoluir permanentemente, aperfeiçoando nossa atuação e ampliando a capacidade de representação e diálogo da categoria”, afirmou.

QUEM É O CAMINHONEIRO AUTÔNOMO BRASILEIRO?  

A “Realidade do Caminhoneiro Autônomo 2025” revelou que a profissão é majoritariamente masculina, com homens representando 99,7% dos entrevistados. Em relação à escolaridade, 43,8% dos participantes possuem ensino fundamental incompleto e apenas 1,1% concluíram o ensino superior.

Com média de nove fretes por mês, 19,8% recebem entre R$ 30 mil e R$ 39 mil, enquanto 12,9% chegam a R$ 50 mil e 3,4% ultrapassam R$ 100 mil. No entanto, quando a pesquisa considera o faturamento líquido, a média cai para R$ 14 mil mensais, com 59% dos motoristas na faixa de R$ 10 mil a R$ 19 mil.

Segundo o levantamento, a média de idade dos motoristas autônomos é de 46 anos e cerca de 46% dos motoristas ouvidos estão entre 40 e 49 anos. Outro dado que foi destaque durante a apresentação é a falta de renovação geracional na modalidade: 85,8% dos caminhoneiros que têm filhos afirmaram que nenhum deles pretende seguir na profissão.

Para o assessor parlamentar da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Alan Medeiros, isso se dá pela tamanha desvalorização que a profissão tem e que a situação reflete diretamente na média da idade do caminhoneiro hoje. “É uma categoria que está envelhecendo e a gente já mencionou essa preocupação em outras oportunidades nessa casa. Há uma necessidade, deputado, diante de dados como esse, de se pensar políticas públicas para que os caminhoneiros possam, sim, ser motivados a continuarem na profissão”, destacou Medeiros.

SAÚDE DOS MOTORISTAS NO BRASIL

A saúde dos caminhoneiros também foi outro ponto de destaque do levantamento, com 43,3% dos entrevistados com alguma comorbidade, sendo as mais comuns pressão alta e sobrepeso/obesidade, ambas com 19,4%. Problemas de visão (18,2%), ansiedade (15,9%) e estresse (15,2%) também apareceram na lista.

Quando questionados sobre os hábitos de vida, 86,5% dos escutados afirmaram não praticar nenhuma atividade física semanalmente, e mais da metade (53%) faz apenas uma refeição por dia.

Além disso, 27,8% admitiram utilizar substâncias psicoativas para enfrentar a jornada, sendo o rebite o mais citado (76,4%), seguido pelo cigarro (35,4%). Há ainda relatos de uso de drogas ilícitas, como cocaína e anfetaminas. Somado a isso, esses profissionais cumprem 14 horas por dia, enquanto possuem apenas oito dias de férias anuais e chegam a ficar até 16 dias consecutivos longe de casa.

A tecnologista do Ministério da Saúde, Adriana Mendes, reforçou a necessidade do cuidado com a saúde dos caminhoneiros. “Vocês movem o Brasil e é o nosso dever garantir que tenham condições dignas, segurança e acesso às ações de promoção e vigilância em saúde, onde quer que vocês estejam. […] Por isso a gente trata da saúde dos caminhoneiros como uma pauta estratégica para assistência e vigilância em saúde em prol da proteção da vida”, completou.

Ela ainda destacou a importância do Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador (CGSAT) nesse contexto com os 229 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs).

Mendes explicou que os centros oferecem um apoio matricial às equipes de atenção primária, qualificam a identificação de riscos e agravos relacionados ao trabalho, desenvolvem ações educativas e de vigilância nos territórios. “Esses centros atuam junto às equipes locais em pontos de parada e descanso, orientando sobre os riscos, prevenindo acidentes e fortalecendo a proteção à saúde do trabalhador”, explicou.

APLICAÇÕES DE LEIS

O descumprimento da Lei do Piso Mínimo do Frete também foi revelado na pesquisa, com 57,3% dos caminhoneiros admitindo aceitar valores abaixo do piso por necessidade, sem denunciar. Mesmo que 56% dos entrevistados afirmem conhecer a legislação, apenas 6,1% acreditam que ela é sempre respeitada.

O assessor parlamentar da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Alan Medeiros, reforçou que esse é um ponto de atenção, já que houve um aumento da fiscalização eletrônica promovida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres. Com o cruzamento automático de dados via MDF-e (Manifesto Eletrônico de Documentos Fiscais), o número de autuações saltou de 4,6 mil em 2022 para mais de 40 mil em 2025.

Ele reforçou que, mais do que a imposição legal, o que protege o transportador é a negociação, a produtividade e a melhoria da infraestrutura. Nesse sentido, o presidente da ANUT defendeu o seguinte: “é hora de sentar com os caminhoneiros, mostrar os dados, apresentar estruturas de custo e construir tabelas referenciais — mas dentro de um ambiente negocial, e não sob coerção legal”. 

 

Fonte: Ana Beatriz Rodrigues - Agência Câmara de Notícias

Via: Agência Logística de Notícias

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